Vamos considerar inicialmente que é o olhar (visão) que estabelece a nossa experiência de identidade com o lugar. Outra consideração a fazer é que, não custa imaginar o poder que as imagens naturalistas (ilusão de volume e tridimensionalidade) exerceram nos fiéis que frequentavam as igrejas no Renascimento. As pinturas exerciam um imenso poder na imaginação das pessoas.
Mas, o que levou as imagens de poderosas a uma situação de banalização, onde já não temos tempo para analisar e refletir sobre seu conteúdo, sua forma e sua criação?
Até bem pouco tempo, as mudanças que atingiam a realidade das pessoas ainda marchavam a um ritmo que permitia aos moradores das cidades, a adaptação à essas mudanças de maneira que ainda podiam disfrutar do sentimento de pertencer ao lugar. O olhar, na relação do sujeito com a paisagem e com outros habitantes ainda produzia sentidos.
Exemplo disto é um personagem típico da Paris dos meados do século XIX, a figura do “flaneur”, o sujeito que caminha pela cidade, sem pressa, saboreando a arquitetura do local, suas praças, o cotidiano das pessoas, os aromas dos cafés, o ruído das carruagens, as mudanças climáticas, etc.
A ponte da Europa, 1876 – Gustave Caillebotte
Ou seja, nossa relação com a cidade é imagética, mas que nome de ruas e números, nos orientamos pela arquitetura, pelas praças, pelas imagens nas casas comerciais.
Com o impacto dos meios de transporte (trens e automóveis) essa relação começa a se modificar, as casas e edifícios perdem os detalhes e a espessura, o caminhar das pessoas, vistos através de um veículo em movimento se transformam em sucessão de slides.
No século XIX, a fotografia permitiu a reprodução das imagens, no século XX, os meios de comunicação trouxeram a imagem em movimento e sua democratização através da televisão.
No entanto, as drásticas e vertiginosas mudanças tecnológicas ocorridas no final do século XX aliadas a interesses capitalistas, fizeram com que adentrassemos o século XXI com o nossa capacidade de percepção sensivelmente danificada.
Assim, com a hiper proliferação de imagens e a velocidade do nosso cotidiano, a cidade vai se tornando um outdoor, um espaço achatado e bidimensional. Não há mais distinção entre realidade e representação, as imagens passaram a constituir elas próprias a realidade, a experiência do conhecimento sensível do real vai se tornando ficção.
Velocidade, imagens e informação no mundo contemporâneo são fluxos que esvaziam o olhar e impedem a construção de relações de identidade com o lugar ou com a imagem. Pense nisto! Um grande abraço!